“Tão grande era o seu amor pelos pobres, que se despojava das suas roupas para os agasalhar.” *

“Luís Gonçalves de Pinho Rocha nasceu no lugar de Pinhão, freguesia de Pindelo, concelho de Oliveira de Azeméis, a 19 de maio de 1872 e faleceu a 26 de dezembro de 1957, em Oliveira do Douro.
Foi ordenado presbítero em 1897, pelo cardeal D. Américo. De saúde débil, dada a circunstância de o Colégio do Sardão estar sem capelão, veio ocupar esse lugar e iniciar a sua atividade pastoral em Oliveira do Douro.” (1)

O reverendo padre Luís deixou bastantes marcas positivas na terra de Oliveira do Douro, sobretudo nas vertentes em que consumiu a sua vida: o Colégio do Sardão, o Monte da Virgem e a sua escola. (2)

Ao padre Luís, deve-se-lhe não só o topónimo Monte da Virgem, que veio a substituir o topónimo de Monte Grande ou Monte Maior, mas também a fundação de um espaço, atualmente o mais vasto do Concelho, destinado a lazer e ao culto mariano no Santuário.


O Pe. Luís era uma figura acolhedora e cativante, tanto nos sentimentos como nas palavras para quem o procurasse.

Em Oliveira do Douro, abriu uma escola primária, tentando ensino pós-laboral para adultos. Até ao fim da sua vida, manteve a sua Escola Oliveirense, com muita frequência e bons resultados escolares. As freguesias vizinhas foram muito apoiadas, chegando até a instalar um pequeno internato, para poupar caminhadas a alunos distantes, numa época em que os transportes públicos de passageiros eram escassos.

Não era só o ensino que absorvia os cuidados deste professor em relação às crianças, como também era disciplinador e muito paternal.

Manteve-se como capelão do Colégio do Sardão, enquanto as forças lhe permitiram. Muitos anos, continuou a manter a capelania do Monte da Virgem, então apenas aos domingos e dias santificados.

Faleceu em 26 de Dezembro de 1957, mas, no seu testamento, quis deixar o seu nome a uma instituição que beneficiasse crianças de famílias de modestos recursos. Tinha apenas a modesta casa onde funcionava a escola e também tinha uma pobre residência. Esta era tão humilde que as Irmãs Doroteias do Colégio do Sardão lhe conseguiram acomodação na sua casa, onde viria a falecer.

A sua disposição testamentária viria a encontrar não só estatuto legal mas também dirigentes capazes de dotarem esta freguesia de Oliveira do Douro, com uma obra assistencial que a honra: a Fundação Obra do Padre Luís. Depois de dificuldades ultrapassadas, esta Fundação foi criada por decreto do bispo da diocese do Porto. (1)

Neste esboço biográfico, não deve ficar no esquecimento a parte final da sua vida, no que diz respeito à sua dedicação ao Colégio do Sardão. As Irmãs Doroteias acolheram-no numa casa, no meio dos jardins, onde ele podia receber as numerosas pessoas que o vinham visitar. Nas últimas semanas da sua vida, para comodidade do doente e das irmãs que cuidavam da sua assistência, foi instalado numa enfermaria no andar térreo com porta para o exterior. Aqui morreu em 26 de Dezembro de 1957. Este facto ultimamente aludido impressionou da melhor forma a população local, que tinha o P.e Luís na mais elevada veneração.

A sua escola constava de duas salas térreas contíguas. Uma porta que dava para a rua, que mais tarde em sua vida teve o seu nome, era a entrada da casa. Dentro, à direita, um tapamento de madeira caiada tinha uma porta que dava para um acanhado gabinete, com algumas cadeiras de palhinha, tendo numa parede uma estante envidraçada com livros. Outra porta interior, à esquerda do gabinete, conduzia ao seu pequeno quarto de dormir, vedado com um tapamento de madeira pintada.

A outra sala de aula comunicava com a primeira sala por uma porta interior, era mais acanhada, tinha porta para o terreno onde as crianças faziam os seus recreios. Tanto uma como outra tinham luz exterior pela esquerda dos alunos, como então era exigido.

A escola primária sofria duma certa precariedade na frequência dos alunos: algumas famílias precisavam de ter os filhos a ganharem alguma coisa para equilibrarem a economia doméstica.

A frequência da Escola do Padre Luís, como popularmente era conhecida no meio de Gaia, distribuía-se não só pela freguesia de Oliveira do Douro, mas também a ela recorriam famílias de Mafamude, Vilar de Andorinho e Avintes. Alunos difíceis pelo comportamento irrequieto ou pelo seu escasso aproveitamento eram inscritos nesta escola, porque o P.e Luís era disciplinador, embora toda a gente fizesse justiça à sua bondade e ao devotamento profissional que consagrava ao exercício do seu múnus de professor. D. Emília era uma senhora do Minho que tinha habilitações para colaborar na escola. Tomava conta de toda a escola, enquanto o P.e Luís não regressava do Colégio dos seus encargos matinais.

Em 19 de Maio de 1946, foi-lhe concedida uma condecoração da Ordem da Instrução Pública; com uma subscrição pública foi criado um certificado de renda perpétua para a formação de prémios pecuniários a conceder a dois alunos mais classificados; à rua da sua residência foi dado o nome de rua do Padre Luís.

O sentido pedagógico da ação escolar do P.e Luís está patente no seu plano de ensino técnico que ele ensaiou em regime noturno, tornando-se um precursor do ensino de aperfeiçoamento profissional em horário pós-laboral. Este aspecto da sua atividade docente não teria sido ponderado quando foi organizado o processo para a sua condecoração pelo Estado com a comenda da Instrução pública, porque os seus merecimentos no ensino diurno eram mais que conhecidos e apreciados.

Mas a sua capacidade intelectual não se esgotava no ensino e na orientação espiritual. Compôs letra poética para músicas sacras e foi jornalista.

Em 1956, um ano antes da sua morte, publicou as suas memórias. Da sua redação não andou afastada a mão do sobrinho P.e António Soares Pinheiro, ilustre jesuíta que durante algum tempo o pôde acompanhar. (2)


Fontes Bibliográficas

* Citação do monumento erguido ao padre Luís no Santuário do Monte da Virgem em 15 de Agosto de 2004
(1) P.e Manuel Leão, O Monte da Vigem — No Centenário, Edição da Confraria do Monte da Virgem, Gaia, 2004.
(2) P.e Manuel Leão, O Santuário do Monte da Virgem, Edição Gráfica Claret, Gaia, 2005